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A LACRIMOSA

Do aquário dourado de bolhas, que iam desaparecendo com o calor,  divagou por uma quantidade de minutos que não preocupou-se em calcular. Naqueles dias, pensou em diversas formas de afogamento. Queria morrer como um aborto em alguma placenta da Terra. Todavia, para satisfazer este desejo, precisaria caber no reservatório como um homúnculo. Homúnculo?! Já o era desde o primeiro minuto em que não tivera coragem de deixar que os primeiros goles de cerveja lhe invadissem com violência a garganta, como os machos fazem. De que lhe serviria o falso moralismo da indecisão? Já havia morrido e ressuscitado uma dezena de vezes com o mesmo sentimento de mar revolto. Os homens sorriam e meneavam as cabeças diante da situação hilária  de  um sujeito com o olhar perdido no espelho d’água do primeiro copo. Alguns lhe deram tapas nas costas e conselhos consternados que não ouviu. Invisível aos olhos de todos, a mulher, sentada na cadeira vazia à sua frente, fitava-lhe com frios olhos...

PESADELO

Sob o teto o epíteto mágico  Sob o mágico a epítese máxima  Para vê-lo eu subia no teto Para tê-la eu sorvia as mágoas  Episódios passados no espelho Pela lua, de novo, evocados Com a luz de passado distante Pela melancolia me vinham  E as fibras cardíacas loucas Pareciam  não terem neurônios Pois doíam, de novo, os amores E amavam as velhas anônimas  Uma febre surgiu ao revê-las As palavras trancaram a boca Não querendo ser pronunciadas Temerosas de virem à tona  Mas, dos olhos que nunca enganam, Deslizaram as lágrimas vivas E minha face sofrida expressou O que estava por trás da persona.

LITANIA

Como era Da existência  A primogênita  Da consciência  Filha mais nova. Ponta do fio Ponto de corte Hora do homem  Ontologia Sala de Janus Som do silêncio Vai na chegada  Vem no partir. Casa ou relento Pena e prêmio Medo do ser Depuração   Rosa do nada Flor do princípio  Dor singular  Inevitável Toque de espinho  , agora e sempre Nas volutas da solidão  Encontra-se o homem consigo: Guerra, paz ou armistício?